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Uma nova janela de oportunidade está se abrindo no Sul Global

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Uma nova janela de oportunidade está se abrindo no Sul Global

ARTIGOS 09 de abril de 2025
Uma nova janela de oportunidade está se abrindo no Sul Global

Morita conta uma história interessante que ocorreu na União Soviética durante o período da Perestroika. A liderança do país o convidou para visitar suas instalações industriais e discutir seu potencial para competir internacionalmente. Depois de visitar as fábricas, um líder soviético perguntou-lhe: "Sr. Morita, este é um aparelho de televisão que agora planejamos vender na Europa. O que o senhor acha dele?" Então, o convidado perguntou: "Posso realmente dizer o que penso?" O líder assentiu. Morita respondeu: "Há um talento artístico maravilhoso na União Soviética. Seus músicos, seus dançarinos, sua herança artística são grandiosos, e seus artistas são mundialmente renomados. Vocês têm a sorte de ter tecnologia e arte em seu país. Mas por que não vejo ambas expostas neste aparelho de televisão? Já que vocês têm arte e tecnologia na União Soviética, por que não as combinam para criar coisas maravilhosas? Francamente, senhores, sabendo o que sabemos sobre o mercado e as preferências do consumidor, não consideraríamos uma televisão tão feia para ser comercializada."

Esta história é muito interessante porque destaca o atraso tecnológico da União Soviética antes de seu colapso em 1991. O historiador Alec Nove enfatizou a dificuldade que uma economia planejada enfrentava para responder prontamente às mudanças na demanda no setor de bens de consumo. Outros autores citaram a corrida armamentista com os EUA como um fator de esgotamento da capacidade produtiva do país. Alguns notaram a criação de um mercado negro que minou o mercado legal. Por fim, os especialistas também apontaram a corrupção generalizada dentro do governo. Apesar disso, gostaria de chamar a atenção para um aspecto que também foi mencionado por estudiosos do assunto: a resposta da União Soviética aos choques do petróleo de 1973 e 1979.

Inicialmente, o forte aumento dos preços proporcionou ao país lucros extraordinários com as exportações de petróleo. A produção soviética entrou no mercado internacional no final da década de 1950 e ganhou força na década seguinte. Os lucros do petróleo permitiram que o país mantivesse seu nível de renda durante as décadas de 1970 e início de 1980. Enquanto isso, os países ocidentais enfrentaram os impactos desses choques, incluindo perda de competitividade, inflação, recessão e desemprego. Somente o Japão conseguiu escapar dessas dificuldades, graças à alta produtividade industrial e muitas inovações.

Do ponto de vista macroeconômico, a resposta dos países ocidentais foi a adoção do neoliberalismo e da globalização econômica. Do ponto de vista microeconômico, houve uma transformação significativa na produção devido às inovações nos setores de informática e eletrônica, que possibilitaram a revolução relacionada à miniaturização dos bens de consumo e o aumento da eficiência energética. Vale destacar também a descoberta de novos depósitos de petróleo no Alasca e no Mar do Norte, bem como o aproveitamento econômico do gás natural, que contribuíram para a queda dos preços do petróleo na década de 1980. Com a terceirização e o offshoring, também foram criadas extensas cadeias de valor, o que reduziu os custos de produção e aumentou a eficiência industrial.

Enquanto a nova economia avançava no Ocidente e se espalhava para o Leste Asiático, a União Soviética permaneceu presa em processos de produção caros e altamente dependentes de combustíveis fósseis. Com a queda dos preços do petróleo, as receitas internacionais do país diminuíram, levando a uma situação de estagnação econômica e um descompasso tecnológico com o setor industrial global.

Voltando à situação atual, é interessante observar como os EUA estão caminhando para uma armadilha semelhante àquela que derrubou a União Soviética: usar recursos abundantes de combustíveis fósseis para estender o ciclo econômico. Além de tentar destruir a globalização econômica por meio da imposição generalizada de tarifas protecionistas, o governo Trump está regredindo o processo de transição energética ao incentivar o uso de petróleo e carvão, ao mesmo tempo em que ataca fontes de energia limpa e veículos elétricos. O Sabin Center for Climate Change Law da Columbia Law School identificou cerca de 70 ações tomadas pelo governo para reduzir ou eliminar completamente as medidas federais de mitigação e adaptação climática desde que o novo governo assumiu o poder. Entre os maiores alvos estava a Lei de Redução da Inflação (IRA), um investimento multibilionário em clima e energia limpa, cujo financiamento foi rapidamente suspenso pelo governo Trump, de acordo com o centro.

As mudanças climáticas não podem ser ignoradas, nem a integração econômica, que os EUA apoiaram décadas atrás.

Por fim, é essencial lembrar que, há 10 anos, nenhum especialista em cenários prospectivos previu a revolução que a China está fazendo na indústria automobilística com seus veículos elétricos, que estão desbancando marcas ocidentais estabelecidas. Da mesma forma, eles não previram o potencial do país em computação quântica, exploração espacial ou inteligência artificial.

No contexto de tensões comerciais internacionais e de crescente incerteza global, as duas sessões deste ano se concentraram em políticas e medidas em diversas áreas, como estabilização econômica, inovação científica e tecnológica e proteção ambiental, demonstrando uma forte determinação em promover o desenvolvimento sustentável. Da perspectiva do Sul Global, a China e os outros países do BRICS se tornaram uma força fundamental na promoção da multipolaridade no mundo, da globalização econômica e da democratização das relações internacionais. Enquanto muitos países ocidentais estão gradualmente fechando suas portas, a China e outros países do Sul Global estão abrindo novas janelas de oportunidade.

O autor é professor de economia política internacional na Universidade Estadual Paulista. opinion@globaltimes.com.cn

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