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O estadista e o autocrata delirante

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O estadista e o autocrata delirante

ARTIGOS 29 de setembro de 2025
O estadista e o autocrata delirante Gage Skidmore

Categórica rejeição do governo Trump 2.0, de seu tarifaço e da tentativa de intervenção na política brasileira; ampliação e fortalecimento do grupo Brics; julgamento e condenação do ex-presidente golpista; aprovação em alta; entrevistas para importantes veículos da imprensa internacional (BBC News, Christiane Amanpour/CNN, Le Monde, PBS News Hour, The New York Times); artigos de opinião publicados no NYT e no britânico The Guardian; reconhecimento de analistas, acadêmicos e líderes mundiais como destemido e incansável defensor da democracia e da soberania nacional; retirada do Brasil do Mapa da Fome da FAO; e multitudinárias manifestações no último domingo (21), em todas as regiões do Brasil, contra a anistia a Jair Bolsonaro e a seus cúmplices e contra a indecente PEC da Blindagem, tramitada vergonhosa e subrepticiamente pela Câmara dos Deputados: foi com esse apoio e capital simbólico que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Nova York para participar da 80ª Assembleia Geral da ONU.

O Brasil está na moda, mais uma vez. Foi um longo caminho desde o editorial “Brazil’s Moment” do NYT, de 24 de janeiro de 2004, um ano após a posse do primeiro mandato de Lula, em que ele é descrito como “uma presença cada vez mais poderosa no cenário global”; ou desde a capa “Brazil takes off”, da revista The Economist, de novembro de 2009; ou do relatório Global Brazil and U.S.-Brazil Relations, publicado em 2011 pelo think tank Council on Foreign Relations (CFR), que recomendou o apoio dos Estados Unidos à candidatura do Brasil a um assento no Conselho de Segurança da ONU e afirmou que o Brasil importa “regional” e “globalmente”. Nos anos 2000, de repente, o mundo pareceu (re)descobrir o país, e essa onda voltou.

No dia 23, conforme a tradição iniciada em 1955, o presidente brasileiro fez o discurso de abertura da AGNU, seguido do anfitrião. Nesta plataforma, chefes de Estado e de Governo atualizam seus pares sobre avanços, desafios e necessidades de seu país. Expõem conquistas obtidas no plano doméstico, na tentativa de transformá-las em recursos de poder. Também é o momento de apresentar sua agenda internacional, de modo a manter ou (re)conquistar visibilidade, legitimidade e respeito, e aumentar sua projeção e relevância. Pelo menos 150 líderes mundiais ocupam a tribuna nesta edição.

Este ano, o contraste entre os discursos de Lula e de Donald Trump foi especialmente marcante. No caso do primeiro, em pouco mais de 15 minutos, vimos a firmeza e o entusiasmo de uma fala inclusiva, propositiva e vigilante, acolhida por reiterados aplausos. No segundo, de cerca de uma hora, salvo no momento de piadas não relacionadas com o discurso e do pedido de libertação dos reféns do Hamas, os olhares incrédulos e o peso do silêncio constrangedor do plenário disseram muito mais do que as palavras sombrias e agressivas de seu orador, cujo tom monocórdio acentuava o visível cansaço.

Lula convocou os países – especialmente os centrais – à ação pelo bem comum e à revisão de suas prioridades. Trump lhes disse para fecharem suas fronteiras, abandonarem a energia renovável e, à exceção da proposta para tentar reduzir a existência de armas biológicas, nada mais ofereceu, além de ressentimento e de uma visão limitada do mundo. Lula condenou o genocídio dos palestinos, ao mesmo tempo em que criticou os ataques do Hamas. Na mesma semana em que Austrália, Canadá, França, Portugal e Reino Unido reconheceram formalmente o Estado palestino, Trump voltou a negar seu apoio, alegando que seria uma “recompensa para o Hamas”.

De um lado, tivemos um discurso contundente, durante o qual se condenou as sanções dos Estados Unidos e seus danos à economia internacional; em que se defendeu o multilateralismo e a própria ONU, como um dos espaços de cooperação global para enfrentar a mudança climática, a fome, a pobreza e outras questões que ultrapassam fronteiras geográficas; e em que se frisou, apaixonadamente, o limite inegociável da democracia e da soberania. Tratou-se de um pronunciamento para o mundo e, do mesmo modo, de uma advertência para a extrema direita, aqui e acolá.

Do outro, o pronunciamento foi, em grande parte, às avessas da sociedade internacional, aqui conceitualmente tomada no sentido formulado por Hedley Bull (A sociedade anárquica, UnB/Ippri, 2002): um grupo de Estados que compartilham valores e interesses, participam de instituições comuns, cooperam entre si e agem conforme normas e regras acordadas coletivamente. Trump atacou seus aliados (em especial os europeus) e suas política migratórias; criticou a ONU, minimizando sua relevância e seu trabalho (“palavras vazias”); manifestou sua estranha obsessão pelo ex-presidente Joe Biden (seis vezes mencionado diretamente, e seu governo, outras tantas); e, sem surpresa, evocou seu negacionismo climático (“‘Tudo verde’ é ‘tudo falido’”) e rejeitou a solução de dois Estados para o conflito em Gaza. Entre outros pontos, seu discurso foi um longo, desinteressante e também preocupante tutorial para as lideranças mundiais presentes sobre como lidar com seus problemas – nos planos doméstico e internacional.

Democracia como base e norte

O pronunciamento de Lula na ONU ressoou, de forma coerente, o também histórico discurso de sua vitória eleitoral, em 30 de outubro de 2022. Passados quatro anos de extrema direita no Planalto, a mensagem do então recém-eleito presidente era a de que, primeiramente, precisaríamos reconstruir a confiança dentro e fora de casa, recuperando nossa credibilidade, previsibilidade e legitimidade com nossos parceiros internacionais.

Após quatro anos de extrema direita, Lula relembrou o que é e como funciona a democracia. De uma perspectiva muito diferente do Brasil de Bolsonaro e dos EUA de Trump, ele expôs seu entendimento sobre características desse sistema político e as raízes iluministas e revolucionárias de tais valores e ideias: união e paz, participação, liberdade religiosa, justiça, Constituição, mais inclusão social e oportunidades, mais respeito, mais liberdade, igualdade e fraternidade. A democracia está, afirmou Lula em 2022, acima de partidos políticos, interesses pessoais e ideologias e, como nos lembra Wallerstein (O declínio do poder americano, Contraponto, 2004), pressupõe igualdade e o livre exercício da cidadania.

Ainda no mesmo discurso, antecipava-se o que seria a agenda interméstica do Brasil e que vimos ser defendida na AGNU, na terça-feira. Acabar com a fome é pauta prioritária que se tornaria (mais uma vez) exemplo para o mundo, junto com a defesa do combate à pobreza e a busca de um crescimento econômico com inclusão social, da reindustrialização do país e de sustentabilidade ambiental por meio de uma economia verde e digital. O Brasil, continuou Lula, deve contribuir para o desenvolvimento dos países mais pobres, compartilhando tecnologia, e ser mais do que um exportador de commodities, também exportando conhecimento. Boa parte desses elementos reapareceu em sua fala no último dia 23, durante a qual o presidente Lula foi aplaudido em diferentes momentos. Entre eles, estão sua defesa da democracia e da soberania, sua crítica à classificação de Cuba como país terrorista e sua denúncia do genocídio em Gaza – esta última, reproduzida no trecho abaixo:

Nenhuma situação é mais emblemática do uso desproporcional e ilegal da força do que a da Palestina. Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo. Mas nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza. [...] Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente. Esse massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo. Em Gaza a fome é usada como arma de guerra e o deslocamento forçado de populações é praticado impunemente”.

O momento é de gravidade nos 80 anos de existência da ONU, cuja autoridade institucional se encontra “em xeque”. Em sucessivas declarações veladas, mas inquestionavelmente direcionadas aos EUA de Trump 2.0, Lula alerta sobre a “consolidação de uma desordem internacional”, na qual “atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra”. Ao relacionar a “crise do multilateralismo” com o “enfraquecimento da democracia”, ele descreve um cenário que remete, também sem afirmá-lo de forma direta, aos EUA do presente: “Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades. Cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais, e cerceiam a imprensa”. No caminho contrário, ressalta que “o Brasil optou por resistir e defender sua democracia” e critica “as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia”, assim como a “agressão contra a independência do Poder Judiciário” e a “ingerência em assuntos internos”.

Sem citar o nome de seu antecessor, Lula destaca o julgamento e a condenação daquele que atentou contra o Estado Democrático de Direito com a ajuda dos “falsos patriotas” da extrema direita nacional “subserviente”, assim como dos EUA: “Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis. Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela”. Aqui, registra-se um momento de intensa ovação.

Democracia, insiste ele, “... pressupõe a redução das desigualdades e a garantia dos direitos mais elementares: a alimentação, a segurança, o trabalho, a moradia, a educação e a saúde”. Além da divergência sobre a concepção deste termo tão fundamental e de outros pontos já mencionados, a cada tema de seu discurso, descortinam-se os elementos do grande abismo político-ideológico que afasta o Brasil de Lula dos EUA de Trump 2.0: prioridades domésticas e em política externa; regulação do setor tecnológico (IA, Big Techs, Internet, mercados digitais); combate ao aquecimento global e à mudança climática, por meio de desenvolvimento sustentável, transição energética sem lógica predatória e um regime “com dentes”; reformas na ONU e no sistema multilateral de comércio, com a refundação da OMC; “jogo de soma zero” na ordem internacional (o conhecido modus operandi de Trump); ou ainda, a estrutura do sistema internacional.

“O século 21 será cada vez mais multipolar. Para se manter pacífico, não pode deixar de ser multilateral. O Brasil confere crescente importância à União Europeia, à União Africana, à ASEAN, à CELAC, aos BRICS e ao G20. A voz do Sul Global deve ser ouvida”, declara Lula, mostrando que o Brasil não está sozinho. Uma mensagem, também, a seu interlocutor americano.

Defesa do extremismo

À semelhança do que aconteceu nas participações do presidente americano na AGNU durante seu primeiro mandato (2017-2021), o discurso se dirigiu, mormente, para sua fiel base eleitoral. Desta vez, também foi destinado à extrema direita dos países europeus, tomados por violentos protestos antimigração nas últimas semanas. Tendo ambos os públicos como seus principais alvos, o roteiro seguiu o estilo informal de um comício de campanha. Nele, o malabarismo retórico agrega elementos heroicos e apelativos de carga emocional e de fácil digestão, expressos por meio de um vocabulário simples e do tom acusatório, com ataques a tudo e a todos. Aqui, precisão e correção das informações ficam em plano algum.

Diferentemente de seu primeiro discurso na Casa em 2017, este ano, Trump não mais defendeu a democracia, nem manifestou seu apoio e colaboração às Nações Unidas. Em contrapartida, ofereceu uma liderança que ninguém mais quer: “Vim aqui hoje para oferecer a mão da liderança e da amizade americanas a qualquer nação nesta assembleia que esteja disposta a se juntar a nós na construção de um mundo mais seguro e próspero”. Silêncio no plenário. E, se no encerramento há o que parece ser um convite à cooperação global – “Vamos todos trabalhar juntos para construir um planeta brilhante e bonito, um planeta que todos nós compartilhamos, um planeta de paz e um mundo mais rico, melhor e mais bonito” –, está claro, ante o discurso em seu conjunto, que esse desejo de um “mundo melhor” não é para todos.

Leia mais sobre o tema no OPEU
Trump na ONU: America First e a rejeição do globalismo (2018)
As mensagens de Trump e Bolsonaro na ONU para seus públicos domésticos (2019)
Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU e a reverência à política externa de Trump (2020)
AGNU e a conjuntura internacional nos discursos de Guterres, Trump e Xi Jinping (2020)

Na conversa com seu público doméstico, o presidente americano abusou da licença poética, ao falar da economia e da migração no país, assim como dos recentes percentuais de aprovação de sua gestão. “Tenho os maiores números de pesquisas que já tive. Em parte, isso se deve ao que fizemos na fronteira. Acho que a outra parte é o que fizemos na economia”, afirmou, confiante, embora não seja verdade. Desde o início do ano, a avaliação de seu desempenho segue tendência de queda, com aprovação em torno de 40%, e desaprovação, de 50%, conforme recentes pesquisas de diferentes instituições (CNN, Elliott Morris/Strenght in Numbers, Gallup, NYT, Real Clear Polling, Silver Bulletin).

Em relação à inflação, aos preços dos bens de consumo alimentício, ao custo do combustível, à conta de luz e a outros relevantes indicadores, a realidade vai no sentido oposto do declarado no trecho a seguir: “Sob minha liderança, os custos de energia caíram, os preços da gasolina caíram, os preços dos alimentos caíram. As taxas de hipoteca caíram, e a inflação foi derrotada […] O crescimento está a todo vapor. A indústria está em alta. O mercado de ações, como eu disse, está melhor do que nunca. […] E, principalmente, os salários dos trabalhadores estão subindo no ritmo mais rápido em mais de 60 anos”.

Trump também buscou agradar ao universo MAGA, abusando do autoelogio e da narrativa de grandeza dos Estados Unidos. “Os Estados Unidos são abençoados com a economia mais forte, as fronteiras mais fortes, o exército mais forte, as amizades mais fortes e o espírito mais forte de qualquer nação na face da Terra. Esta é, de fato, a Era de Ouro dos Estados Unidos. [...] No cenário mundial, a América é respeitada novamente como nunca foi respeitada antes. [...] Somos o país mais popular [tradução livre do original, hot] do mundo e não há outro país sequer perto”. Ou ainda neste trecho sobre os 250 anos da Independência, ignorando o momento presente no país: “Em homenagem a este aniversário tão importante, espero que todos os países que se inspiram em nosso exemplo se juntem a nós para renovar nosso compromisso, nossos valores e aqueles valores que tanto prezamos juntos. Defendamos a liberdade de expressão e a liberdade de expressão”. A plateia estava em silêncio nesses momentos e assim continuou.

Com números inventados, inflados, ou sem apoio em evidências, e fatos distorcidos, falsos, ou sem conexão com a realidade, o discurso de Trump na ONU não resiste à análise dos serviços de verificação de diferentes veículos da imprensa. [Deixo exemplos para futura conferência, em caso de interesse do leitor, ou leitora: ABC News, AP, CNN, Deutsche Welle, NYT, PolitiFact, The Guardian]. Uma parte disso fica na conta (talvez) da estratégia política, e a outra, na de uma mistura perigosa de megalomania, mitomania, falta de conhecimento e arrogância.

No plano internacional, a quase total ausência da China e das relações EUA-China como tópico foi compensada com o tom condescendente em relação à Rússia e preenchida com o foco excessivo nos europeus e no sistema ONU.

Para os aliados históricos dos EUA, Trump antecipou um futuro sinistro (“vocês vão para o inferno”), devido à maneira como lidam com uma “crise de migração fora de controle”: “Se vocês não pararem pessoas que nunca viram antes, com quem não têm nada em comum, seu país vai fracassar”. E reservou críticas, antagonismo e lições de casa sobre meio ambiente e mudança climática (“o maior golpe já dado no mundo”), energia (“ideias suicidas”, “golpe da energia verde”) e sobre a falácia do politicamente correto: “Sou o presidente dos Estados Unidos, mas me preocupo com a Europa. Amo a Europa, amo o povo europeu. E detesto vê-la sendo devastada pela energia [verde] e pela imigração, esse monstro de duas caudas que destrói tudo em seu caminho”. É a fala da pessoa narcisista que, depois da surra (física ou emocional), comenta: “Estou fazendo isso para o seu bem e apenas porque me importo com você”. Not really.

Em relação à ONU, não foram poucos os insultos. O manifesto azedume pela “falta de reconhecimento”, por parte da organização, de todos os seus esforços para encerrar conflitos mundiais (sete guerras!) busca ofuscar (sem conseguir) os ataques, o afastamento intencional e a contribuição cada vez menor dos EUA a essa mesma instituição. Junto com o questionamento ignorante de sua existência, sobram os vetos anacrônicos no Conselho de Segurança, os quais pouco ajudam no revigoramento e na atualização da estrutura onusiana.

Leia mais sobre o tema no OPEU
A 78ª Sessão da Assembleia Geral da ONU: desafios persistem para os EUA e o multilateralismo (2023)
Reforma ou ruptura: ante crise da governança global, Brasil e EUA discursam na 78ª AGNU (2023)
Biden nas Nações Unidas e alguns dilemas da Política Externa Norte-Americana (2023)
Os EUA ante o Pacto para o Futuro e a 79ª sessão da Assembleia Geral da ONU (2024)

Trump voltou a criticar o Brasil com a mesma ladainha dos últimos meses, mas também improvisou, deixando a paulada em um ritmo errático, após esbarrar com o presidente Lula nos bastidores e convidá-lo para uma reunião em breve. Também há menção às gangues e aos cartéis de drogas venezuelanos e ao presidente Nicolás Maduro, assim como às insalubres prisões de El Salvador que mantêm imigrantes a mando dos EUA, sob acusações de violações dos direitos humanos. De um modo geral, no entanto, Américas do Sul e Central, Sul Global, Ásia e África foram ignorados, o que nos dá uma visão da escala de importância geográfica e temática na política externa trumpista. [Sugiro a leitura do discurso do vice-presidente J.D. Vance na Conferência de Munique, em 14 de fevereiro de 2025, para um melhor panorama das relações exteriores do governo atual].

É preciso lembrar

Embora Lula e Trump tenham trajetórias, princípios, agendas e modos de atuar na vida pública completamente distintos, compartilham uma preciosa qualidade: ambos são veteranos na arte da negociação. Essa experiência pode facilitar a leitura do oponente, permitindo identificar as linhas invisíveis (mas bastante claras e sensíveis) dos limites estabelecidos por um e outro em qualquer tentativa de diálogo. Na AGNU, Trump disse que negocia apenas com aqueles de que gosta, em referência indireta ao presidente brasileiro. É um indicativo, ainda que insuficiente, de uma porta semiaberta para tratativas. A resposta sobre a reciprocidade neste sentimento já havia sido dada por Lula na entrevista à jornalista Amna Nawaz, do programa PBS News Hour.

Não é uma questão de gostar, ou não, dele. O que importa é que ele é o chefe de Estado dos Estados Unidos, e eu sou o chefe de Estado do Brasil. E, como dois chefes de Estado, temos que nos respeitar, porque fomos eleitos democraticamente pelo povo dos nossos países, e precisamos apoiar essas pessoas e governá-las da melhor maneira possível”.

Na interlocução vindoura anunciada por Trump, Lula e sua equipe escaparão de armadilhas, preparando-se e antecipando-se às contradições, recuos sem aviso prévio, inconstância, vaidade e visão limitada e curto-prazista de seu homólogo americano. E manterão vantagem e tranquilidade, lembrando-se de que: 1) o mundo não olha mais para os EUA em busca de liderança, nem vê mais o país como o guardião dos valores morais do “Ocidente”, nem como modelo de democracia; 2) o mundo é maior do que o “Ocidente”; 3) em breve, haverá midterms nos EUA, o que significa que Trump precisará de algum bom resultado para publicizar em casa; 4) Trump respeita apenas o poder e quem se agiganta. Ele vocifera ameaças e esperneia, mas recua quando encontra um adversário à altura. E, segundo o próprio, ele encontrou.

 

* Tatiana Teixeira é consultora associada do Unity Global Institute e U.S. State Department Alumna (SUSI 2025). Esteve nos EUA em junho e julho de 2025 para participar do curso de American Politics and Political Thought, realizado no âmbito da Civic Initiative, do Donahue Institute, vinculado à Universidade de Massachusetts Amherst (UMass). O programa Study of the United States Institutes (SUSI 2025) é patrocinado pelo Departamento de Estado dos EUA e administrado pela Universidade de Montana (UM). Trabalhos decorrentes do programa ou outros relacionados aos Estados Unidos são considerados de totais autonomia, iniciativa e responsabilidade da pesquisadora e não representam qualquer endosso ou adesão a quaisquer políticas e agendas por parte do governo americano atual, ou anteriores. Contato: tatianat19@hotmail.com

 

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